sexta-feira, 20 de maio de 2011

Amor, verbo intransitivo

 
Amor, verbo intransitivo. É o título de um romance, escrito em 1927, por Mário de Andrade.  Surpreende, porque amar é verbo transitivo direto.  Intransitivo é verbo que não aceita complemento. Sua ação ou estado permanece no sujeito. Não se completa em algo ou alguém distinto do agente. É fechado em si mesmo, verbo autossuficiente. O mundo está cheio de pessoas que amam de forma intransitiva. Vivem falando de amor, mas o que praticam, de verdade, é puro culto de si mesmo. Só tem em mente a própria satisfação.  São incapazes de olhar para outro, se não for por interesse. Amar é sair de si para buscar outro a quem se decide fazer feliz. Na natureza do amor está inserida a exigência de abrir mão de si mesmo e de suas conveniências. Amar é jogar o destino nas mãos de outro a quem se entrega , por  inteiro, a vida.Claro que muitos torcem o nariz: ‘romantismo barato. Conversa de gente tola’ . Exatamente por isso o mundo está do jeito que conhecemos. Existe muita ignorância sobre amor. Ninguém pratica aquilo que desconhece. Mas não há a preocupação de aprender. Quando ouvimos a palavra amor, logo nos reportamos a modelos conhecidos. Que nada mais são que traduções de grosseiro egoísmo. De interesse descarado de levar vantagem. Em tudo. Especialmente no relacionamento interpessoal. Ao conhecer alguém interessante, a primeira coisa em que uma pessoa pensa é: que proveito eu posso tirara? Qual vai ser o meu lucro? Cansamo-nos de condenar a li de Gérson;  só que, na prática, nos deixamos conduzir por ela. Vivemos sob a tacão de um capitalismo ensandecido, que só visa lucro. O que importa é lucrar,  faturar sob todos os aspectos. Fora daí nada existe que valha a pena.Por isso é tão difícil hoje aceitar a mensagem cristã. O chamado tríduo sagrado – quinta-feira à noite, sexta-feira santa às três da tarde e o sábado da solene vigília pascal – chocam-nos com algo que incomoda: admitir que só pode falar que ama quem se dispõem a morrer pelo ser amado.Jesus: ‘Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelas pessoas amadas’ (João 15:13)Não é difícil entender. Quem ama se volta para o ser amado para lhe proporcionar tudo o que julga fazer-lhe bem. Atenção, sorriso, carinho, conforto, palavra, tempo, dinheiro, presentes…pode oferecer inúmeras coisas. Se der, porém, a própria vida, acabou. Deu tudo. Não tem mais o que dar. É prova máxima. Se alguém dá a vida, não há como duvidar do seu amor.Aconteceu conosco. Deus quis convencer-nos de que nos ama com um amor de que só Ele é capaz. Tarefa difícil, porque somos desconfiados. Para nós ‘quando a esmola é grande o santo desconfia’ . Então Deus provou. Não deu uma prova qualquer, mas a maior de todas: decidiu morrer por nós. O problema é que Deus não pode morrer. Então Ele inventou um jeito: sem deixar de ser Deus, enviou  o seu filho, de natureza igual à sua, feito homem , com nós. Como Homem Jesus pode morrer. Sua morte não foi simples desfecho de um drama humano. F oi, antes de tudo, realização do projeto de Deus de revelar, em seu filho, o sue amor por nós. A ressurreição, na madrugada do domingo, é a prova de que agradou a Deus a entrega de Jesus por toda a humanidade. Em Jesus, Deus nos aceitou. No filho, nós nos tornamos filhos.




[ Orivaldo Robles /Extraído - O Díario 24.04.2011 ]
Fonte: www.convitealoucura.com.br/

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